Gustavo Rodrigues, pediatra do Hospital Lusíadas Lisboa, começa por alertar: “Se a criança está com aleitamento exclusivo, geralmente não tem cólicas!”. Neste artigo, o especialista aponta possíveis causas para o desconforto do lactente – e que podem ser confundidas com cólicas do bebé -, e revela aos pais uma dica fundamental no despiste dos sintomas: “As cólicas não passam com colo!”
Os pais julgam tratar-se de cólicas do bebé, quando…
1. Apesar dos esforços para o reconfortar, o bebé chora compulsivamente por longos períodos — muitas vezes, à mesma hora, todos os dias ou noites
A criança impossível de consolar pode ter cólicas, mas é muito mais frequente que a situação se reporte à chamada “luta contra o sono”, que se verifica geralmente ao fim do dia. A criança tem muito sono mas quer, ao mesmo tempo, estar acordada para conhecer mais coisas. Quando isso acontece, o choro só termina com a exaustão do bebé que, subitamente, parece “desligar o motor”. Não há cólicas com horário fixo.
2. O choro começa geralmente após as refeições e muitas vezes o bebé bolça mais nessas alturas
Há várias causas que podem explicar esta coincidência, nem sempre explicada pelas chamadas cólicas, e que quase nunca se deve ao que a mãe come. O bebé pode ter fome (não se sente satisfeito) ou ter alguma intolerância à lactose. No aleitamento com leite artificial, pode haver cólicas, porque esse leite tem lactose e cerca de 25% da população tem défice de lactase – a enzima que faz a digestão da lactose. Outra causa importante de cólicas do bebé, geralmente acompanhadas de refluxo gastro-esofágico ou vómitos, é a alergia às proteínas do leite de vaca.
Neste caso, as crianças têm de fazer dieta sem derivados do leite de vaca até cerca dos dois anos. No refluxo gastro-esofágico, que é frequente até aos seis meses, as crianças comem e bolsam. Podem engasgar-se frequentemente ou “ruminar”, sinal que a criança sente a chegada de leite à boca. Nestes casos, pode chorar por ter dores devido à ”azia” e por ter fome, já que perdeu alimento com o vómito. Ou seja, não são cólicas reais!
3. As “cólicas” passam assim que o bebé faz cocó
Se o choro e o desconforto desaparecem depois de o bebé fazer cocó ou emitir gases, isso pode dever-se à presença de uma fissura anal que lhe provoca dor nessas alturas.
4. O bebé mostra inchaço abdominal ou estômago duro e distendido. Quando chora arqueia as costas, dobra os joelhos até ao peito, cerra os punhos e mexe muito os braços
Quando o bebé chora, revela sempre movimentos de hiperextensão, movimentos dos braços e pernas e barriga dura… Nada disto quer dizer que está com “cólicas”, mas apenas que a criança está irritada. São sintomas que não devem ser sobrevalorizados.
O nervosismo da mãe pode também estar na origem da reação. O bebé conhece desde o início da gestação a frequência cardíaca da mãe e a sua tensão muscular. Se a mãe estiver angustiada ou nervosa, tem a frequência cardíaca aumentada e treme…Nesse caso, tal como os adultos, a criança pode ter cólicas, mas como uma resposta fisiológica à sua noção de risco, tal como acontece com os adultos. O bebé para de chorar quando a mãe se acalma e a sensação de perigo desaparece.
5. O desconforto do bebé interfere com o seu padrão de sono
Durante os primeiros meses, o padrão de sono do bebé não é estanque. O choro que só se verifica durante a noite deve-se, muito frequentemente, à falta que o bebé sente de um consolo imediato, principalmente se, durante o dia, os pais contam com muita ajuda familiar.
O bebé geme e recebe colo durante um longo período e, à noite, isso não acontece — a sua resposta é de estranheza. Se a criança se cala quando lhe pegam e é consolada, isso é um sinal inequívoco de que não tem cólicas. As cólicas do bebé não passam com colo!
Fonte: lusíadas