Quando o bebé não está a dormir o que precisa (duração total das sestas), na distribuição ajustada (horário das sestas ao longo do dia) e sob os hábitos adequados durante o dia, o sono da noite, caso ainda não tenha dado sinal, poderá começar a ficar interrompido com despertares a meio da noite. Por vezes sou questionada porque é que nas minhas intervenções no terreno, resolvo os problemas de sono nocturno do bebé, durante o dia, por ser algo curioso para muitos pais. É porque é onde se tem o melhor terreno de aprendizagem e prática em relação à conciliação do sono e mesmo ao readormecer entre ciclos circadianos (de 45 minutos cada).Praticamos de dia, algo a ser implementado de forma contínua durante a noite, sem interrupções demarcadas para atividade e, desde cedo, para alimentação (através de um desmame sólido e seguro).
Assim, o sono do dia é uma preparação diária para a melhoria e consolidação do melhor sono da noite. Para complementar deve haver um conjunto de referências, a par de uma mudança de postura e resposta por parte dos pais, para a distinção do dia da noite, para ajustar a expectativa do bebé, em sintonia com rituais de referenciem o final do dia.
Se o bebé dorme menos do que a sua fase de desenvolvimento físico necessita, ao longo do dia, é algo que se reflectirá num sono mais agitado – com maiores períodos de sono leve durante a noite, e logo maior predisposição para acordar, ou incapacidade de consolidar o sono noturno continuo. Caso o bebé se habitue a dormir menos do que precisa para a idade, durante o dia, poderá dar-se também um acumular de situações indesejadas ao ponto se enraizarem em hábitos: se o bebé ao dormir pouco durante o dia, estará mais propenso a alimentar-se pior (mais sôfrego, ou mais desconcentrado, ou com menos quantidade), assim como a ter tendência para diminuir intervalos entre refeições, a ter mais momentos de choro e rabugice ou mesmo de exaustão, tornando-se muito exigente. Neste caso, todo este acumular tende não só a comprometer a qualidade de sono à noite, como a de potenciar o despertar por fome durante a madrugada, além do reflexo de hiperestimulação diurna. O sono potencia o sono, quanto menos o bebé dormir (do que precisa), mais difícil será o seu sono seguinte.
Obviamente a distribuição do sono diurno é muitíssimo importante, daí que o bebé precise de fazer um ritmo de sono diurno que tempere a estimulação dos momentos de atividade com verdadeira “absorção” de informação, com o modo profundo de processamento, reparação e crescimento, ou seja o dormir. As sestas de tempo ajustado protegem também o seu cérebro de deixar de reter informação de forma qualitativa enquanto acordado, e evitam o empurrar do bebé para estados de desconcentração e aceleramento físico ao ponto de poderem influenciar o seu comportamento a médio e longo prazo (e até o dos pais) e mesmo o seu temperamento.
O bebé só precisa de estar acordado em momentos que possam ser de qualidade para ele, e quando demonstrar sinais de sono, será correcto mudar de ritmo – começar a acalmar – para poder depois aprender a adormecer, e dormir, o tempo ajustado. Claro que só será tão simples caso se encare o sono como uma das aprendizagens mais estruturais do Ser Humano, em idades de rápido crescimento, e possa haver, por parte dos pais, dedicação ao mesmo nível que há para outras aprendizagens importantes. Caso contrário é mais típico que dormir pouco ou mal, se possa tornar um hábito.