Durante os primeiros dias de vida, o recém-nascido passa por uma evolução muito rápida, sendo visíveis mudanças tanto a nível físico como comportamental. É preciso lembrar que, depois de ter estado protegido durante 9 meses, o bebé depara-se agora com um ambiente desconhecido. Assim, para além de necessitar de recuperar fisicamente, depois de ter superado o difícil trajecto de saída, ele terá também que se adaptar ao novo meio.
Características físicas
Após longos meses de espera, o filho que os pais têm nos braços não é exactamente o bebé de bochechas rechonchudas e pele rosadinha que idealizaram. Os corpinhos dos bebés estão geralmente cheios da designada vernix caseosa, a pele está avermelhada e a face está cheia de rugas. Um olhar mais atento pode mesmo descobrir pequenas manchas ou deformidades. Todas estas “imperfeições” são perfeitamente comuns e acabam por desaparecer sem deixar sequelas.
A pele
Após a nascença, entre o 4º e 5º dia, a pele do bebé ficará cor-de-rosa pálido e irá adquirindo a sua cor definitiva. No entanto, se evoluir para uma cor pálida ou azulada, significa que o bebé está com frio e tem de ser aquecido ou que algo de errado se passa com a respiração e circulação sanguínea. No caso de assumir uma cor amarelada, poderá estar a desenvolver um quadro de icterícia.
A pele do bebé pode ter pequenas erupções salientes, provocadas pela retenção das glândulas sebáceas (milia). Geralmente encontram-se nas bochechas, nariz e fronte, desaparecendo até às quatro semanas.
No 2º e 3º dia, podem também surgir uma espécie de borbulhas rosadas espalhadas pelo tórax, costas, nádegas e abdómen (eritema tóxico neonatal) que também desaparecem, entre as 48 a 72 horas posteriores.
Devido ao contacto da pele com alimentos ou com a própria pele da mãe durante a amamentação, sobretudo quando há calor, o bebé poderá apresentar dermatite perioral, isto é, borbulhinhas que surgem no queixo ou nas bochechas, e que desaparecem gradualmente.
A cabeça
O crânio do bebé não está totalmente ossificado, de modo a poder moldar-se e passar pelo canal do parto sem provocar lesões. Como resultado, a cabeça pode parecer um pouco deformada, como que em forma de cone. Essa característica, no entanto, não afecta o cérebro e acaba por regredir espontaneamente durante os primeiros dias. Podem também surgir inchaços, quer no topo da cabeça devido à acumulação de líquidos (bossa), quer de lado, devido ao sangue derramado pela fricção entre o crânio do bebé e ossos pélvicos da mãe (céfalo-hematona). O primeiro desaparece em poucos dias, o segundo nos primeiros meses.
De salientar também a fontanela anterior, também chamada “moleira”, que se situa na parte mais alta da cabeça e é coberta por uma fina camada fibrosa. Esta permite o crescimento rápido do cérebro, pulsa com cada batimento cardíaco e encerra entre os 12 e os 18 meses.
O rosto
O rosto do recém-nascido encontra-se geralmente inchado, mas vai adquirindo os traços definitivos à medida que perde líquidos. É também comum o nariz estar deformado, mas voltará ao normal no final da primeira semana.
Também os olhos poderão estar inchados, o que dificulta a sua abertura. Os olhos podem ainda estar lacrimejantes, mas só será preocupante se aparecerem sinais de inflamação, como vermelhidão e remelas.
Entretanto, na boca, e devido ao atrito constante com o peito da mãe ou o biberão, é possível que apareça um calo de sucção ou bolha no lábio superior, que desaparecerá assim que a alimentação for diversificada. Nas gengivas e no palato duro (céu da boca) podem também surgir pérolas epiteliais, pequenos quistos com um líquido ou placas brancas e rasas,que desaparecem num ou dois meses.
No que diz respeito às orelhas, é possível que uma das suas extremidades possa dobrar-se, pois elas são macias e maleáveis, mas tudo ficará normal assim que a cartilagem começar a endurecer.
O cabelo
Os bebés podem nascer com muito cabelo ou completamente carecas. Trata-se, no entanto, de cabelo temporário, e começa a cair por volta de um mês de idade. Nalguns bebés vai caindo à medida que o cabelo permanente vai crescendo, enquanto noutros cai completamente até o bebé ficar careca. De salientar que a cor do cabelo do bebé à nascença não quer dizer que seja a cor definitiva.
Genitais e maminhas
Devido às hormonas da gravidez da mãe, que levam algum tempo a desaparecer do corpo do filho, é possível que as maminhas do bebé estejam inchadas e até vertam uma secreção, quer se trate de um menino ou menina. Atenção que não se deve espremer as maminhas do recém- -nascido.
As mesmas hormonas podem também provocar inchaços nos genitais, ao congestionarem os tecidos. Em ambos os casos, o inchaço desaparecerá rapidamente.
Por seu turno, a menina pode sofrer uma hemorragia vaginal, semelhante a uma menstruação ligeira, que apenas durará um dia ou dois. Isso deve-se ao facto de, ainda no ventre da mãe, o revestimento do seu útero ter espessado devido aos níveis elevados de estrogéneos. Recomenda-se uma correcta higiene aquando da muda da fralda. Nos meninos, é possível que os testículos possam estar ainda nas virilhas, mas geralmente descem mais tarde sem complicações.
O corpo
O bebé pode apresentar uma ligeira distensão abdominal que se corrige logo a seguir ao nascimento, nas primeiras 24 a 48 horas. Alguns recém-nascidos, sobretudo os prematuros, têm também ainda algum do lanugo( penugem) que lhes revestia o corpo no útero, que acabará por cair entre 2 e 4 semanas.
Entretanto, o bebé poderá sofrer uma luxação da anca durante o parto e consequentemente ter quadris apertados, que não lhe permitem abrir as pernas completamente. De qualquer forma com as medidas adequadas, as luxações desaparecem até aos 35 a 45 dias de vida.
É possível ainda que o bebé sofra uma torção da tíbia, fruto da sua posição dentro do útero, o que irá fazer com que a parte inferior da perna fique encurvada. Este problema, no entanto, corrige-se mal a criança comece a andar.
É também natural que o pé do recém-nascido esteja virado para cima, para dentro ou para fora, pois a sua flexibilidade permitia-lhe virar-se em todas as direcções no útero. Costuma voltar à posição normal entre os 6 e os 12 meses de idade.
Peso, altura e perímetro craniano
Apesar de o peso ser uma das primeiras preocupações dos pais, uma avaliação precisa do estado de saúde do bebé terá de incluir também a altura e o perímetro craniano.
Relativamente ao peso, é bastante variável nos recém-nascidos, sendo que a média para os meninos é 3,5kgs e para as meninas 3,3kg. É natural que o bebé perca peso nos primeiros dias, devido à perda de líquidos, mas a partir do 8º dia começará a recuperar e entre o 10º e o 15º já terá o peso inicial.
Relativamente à altura, a média é de 50 cm para os meninos e 48-49 para as meninas. A média do perímetro craniano varia entre os 34 a 36 cm. De qualquer forma, não deixam de ser médias, e o importante é que o bebé vá aumentando e mantendo um ritmo constante de crescimento.
Os sentidos
O recém-nascido já nasce com os cinco sentidos desenvolvidos: a visão, audição, olfacto, tacto e paladar. No que diz respeito à visão, já distingue rostos e objectos ao seu redor, a uma distância de 20 a 25 cm. O ouvido, já completamente desenvolvido, permite-lhe reagir e identificar a proveniência de estímulos sonoros. O tacto, já aperfeiçoado pelo contacto que teve com o líquido amniótico, permite ao bebé uma grande sensibilidade para as variações de temperatura e humidade, bem como na distinção da textura dos objectos.
O bebé à nascença também já tem um paladar apurado, pelo que consegue distinguir um sabor agradável de outro desagradável, reagindo com mudanças de expressão. Assim, revela reacções positivas aos alimentos doces, desaprovando os salgados, amargos ou ácidos. Quando não gosta de algo, para além de caretas, abre mais a boca e aumenta a salivação.
O sentido menos desenvolvido dos bebés é o olfacto, apesar de conseguir distinguir alguns odores, nomeadamente o da mãe. Os bebés amamentados são capazes de cheirar o leite materno e distinguir a própria mãe das outras lactantes.
Sistema neurológico
O sistema nervoso autónomo do bebé ainda não está completamente desenvolvido à nascença. É por isso que ele tem reacções involuntárias, provocadas por estímulos, que só desaparecerão por volta dos 3 meses.
Uma das reacções mais testadas pelos médicos, pois comprova o tónus muscular da criança, é o chamado reflexo de moro ou do abraço. Este desencadeia-se sempre que o bebé se sente em desequilíbrio ou em perigo, nomeadamente quando se altera a sua posição. Instintivamente, ele estica os braços e as pernas e seguidamente aproxima-os num movimento de abraço, cerrando os punhos. Simultaneamente, começa a chorar.
O bebé pode ainda reagir a um som alto ou repentino, comportando-se de forma idêntica embora não completando o abraço (reflexo do espanto).
Entre os vários reflexos instintivos, podemos salientar também o reflexo de sucção, que irá permitir que o bebé não tenha dificuldade em começar a mamar. O reflexo de deglutição ou de engolir também estará bastante desenvolvido, já que os bebés estão habituados a engolir líquido amniótico.
Outro reflexo instintivo é o de caminhar (reflexo de marcha automática). Se erguermos o bebé segurando-o pelos braços e mantendo-o em posição vertical sobre uma superfície dura, ele começará automaticamente a andar. Isto irá desaparecer entre a 6º e a 8º semana e não está relacionado com a capacidade para caminhar, que só se irá manifestar mais tarde.
Por último, o bebé apresenta à nascença o reflexo de agarrar (reflexo de preensão e plantar). Com efeito, se colocarmos um dedo na palma da sua mãozinha ele irá agarrá-lo com muita firmeza. O mesmo acontecerá se fizermos cócegas na planta dos pés.