Sabemos hoje o quanto as primeiras experiências com os alimentos determinam as preferências alimentares futuras. Estudos mostram que o contacto com determinados sabores nos primeiros meses de vida, mesmo que de modo não intencional, pode influenciar as preferências e escolhasalimentares anos mais tarde.
As papas infantis são muitas vezes o primeiro alimento que se introduz, pois fornecem hidratos de carbono, proteínas e, quando fortificadas, vitaminas e minerais importantes como o ferro, que é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do bebé.
As papas industriais (também conhecidas por papas de supermercado), embora não sejam essenciais — principalmente se o bebé tiver acompanhamento nutricional — podem ser muito úteis: pela sua praticidade, segurança e composição nutricional, quando bem escolhidas. No entanto, a grande dificuldade está em escolher uma papa de qualidade. Por isso, é importante saber o que comprar.
Existem dois tipos principais de papas industriais: as papas lácteas e as papas não lácteas.
– Papas lácteas: já contêm leite, pelo que devem ser preparadas apenas com água. E, por já conterem leite, tendem a ter mais açúcar, mesmo sem adição explícita, devido a ingredientes como farinhas hidrolisadas ou trigo hidrolisado. Por isso, sempre que possível, escolha versões sem trigo hidrolisado. A maioria das papas lácteas no mercado contém mais de 20 g de açúcar por 100 g, o que significa que cerca de 1⁄4 da papa que vai dar ao seu bebé é açúcar puro. Será mesmo este o tipo de alimentação que quer oferecer ao seu bebé?
– Papas não lácteas: não contêm leite na sua composição, pelo que se preparam com leite materno ou fórmula infantil. Devem ser fortificadas em ferro e vitaminas, sem açúcares adicionados (<0,5 g/100 g) ou com baixo teor em açúcares (<5 g/100 g), e sem aromas ou sabores adicionados para que o bebé contacte e se familiarize com o sabor natural dos cereais. São sem dúvida a melhor opção!
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Requisitos básicos para a escolha das melhores papas de industriais
Baixo teor de açúcar
O açúcar presente nas papas de compra é o aspeto mais importante a avaliar, pois determina a sua qualidade. Embora as recomendações indiquem que não devem ser oferecidos açúcares adicionados antes dos 12 meses, muitas papas disponíveis (e até recomendadas por pediatras) acabam por incluí-los de forma pouco explícita na sua lista de ingredientes.
Mesmo quando o rótulo indica “sem açúcares adicionados”, é frequente surgirem alternativas
como maltodextrina, farinhas hidrolisadas ou diferentes tipos de “xaropes”. Por isso, sempre
que identificar algum destes termos, está perante uma papa com adição extra de açúcares:
Sem aromas a baunilha
Vários estudos científicos mostram que a exposição precoce ao aroma de baunilha (ou vanilina/etilvanilina) pode fazer com que, mais tarde, o bebé passe a preferir alimentos processados com esse sabor — como certos molhos, bolachas, gelados ou sobremesas.
Assim, escolher papas sem aromas adicionados nesta fase precoce de introdução alimentar ajuda o bebé a contactar e apreciar o sabor natural dos cereais e da fruta. Este contacto inicial é fundamental para formar hábitos alimentares saudáveis e evitar o estabelecimento de uma preferência por alimentos doces e processados.
Fortificadas com ferro
Garantir ferro suficiente na alimentação do bebé é essencial nos primeiros anos de vida. Entre os 6 e os 24 meses, o crescimento rápido do bebé exige mais deste mineral do que o leite materno consegue fornecer por si só. Por isso, é importante que os alimentos complementares contribuam para fornecer quantidades suficientes de ferro, ajudando a prevenir deficiência deste mineral e os seus efeitos adversos no desenvolvimento. Daí ser fundamental, ao escolher uma papa de compra, garantir que ela esteja devidamente fortificada, assegurando assim que o seu bebé recebe as quantidades adequadas de ferro, tão necessárias nesta fase crucial do crescimento.
Ricas em fibra
As papas com maior teor de fibra trazem vários benefícios para o seu bebé, ajudando a regular o trânsito intestinal e a reduzir a velocidade de absorção dos açúcares, especialmente nas papas lácteas.
A quantidade de fibra varia consideravelmente entre as diferentes marcas e tipos de papas de supermercado, sendo estas discrepâncias mais evidentes nas opções lácteas. Por isso, é importante prestar atenção a este detalhe ao escolher a papa do seu bebé.
Na prática, quanto maior o conteúdo de fibra melhor. Procure papas com pelo menos 3 g de fibra por 100 g de produto.
Podem (e devem) conter glúten
Segundo as recomendações atuais da European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) e da Direção-Geral da Saúde, o glúten deve ser introduzido entre os 4 e os 7 meses de idade, uma vez que estudos sugerem que bebés expostos ao glúten logo no início da diversificação alimentar apresentam menor risco de desenvolver doença celíaca no futuro.
Isto significa que, assim que o bebé inicia a alimentação complementar, já devem ser escolhidas papas que contenham glúten. No entanto, nos primeiros momentos de introdução, devem sempre ser oferecidas apenas pequenas quantidades, observando sempre a sua reação.
Um conselho prático que forneço sempre em consulta: não prove a papa do seu bebé. Se para si tiver um sabor agradável ou doce, significa que já não é adequada — para eles a papa deve ser simples, quase sem sabor, exatamente como precisa de ser.
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