Falar de pós-parto e amamentação é cada vez menos um tabu, mas ainda há muitos estigmas e pressões para que a mulher que dê à luz volte logo à mesma forma física que tinha antes de engravidar. Mas este pode ser um processo que pode durar até um ano, explica Domingos Vaz, especialista em ginecologia e obstetrícia no Hospital da Luz, Lisboa.
“Desde que tenha existido um bom acompanhamento durante a gravidez, no que diz respeito ao controlo de peso, o processo dá-se de forma muito fisiológica, sem grandes esforços. Se o aumento de peso não ultrapassar, em média, os 14 quilos durante a gravidez, por norma ao fim de um ano, numa mulher que amamente, o corpo deverá voltar a ser como antes – sem grande esforço”, começa por explicar o especialista. São várias as mudanças por que o nosso corpo vai passando após o parto, desde o reposicionamento do útero até a alterações nas unhas e cabelo. Mas muitas pessoas ainda sentem a pressão de ter que ficar magras o mais rápido possível.
Para quebrar barreiras destas, muitas são as personalidades que têm vindo a público, na maioria das vezes através das redes sociais, para mostrar e desmistificar os dogmas sobre a gravidez, o pós-parto e a amamentação. Falamos de nomes como a cantora Carolina Deslandes, que publica frequentemente questões relacionadas com os seus três filhos, também a atriz Dânia Neto mostrou a sua barriga ainda distendida após o nascimento do seu primeiro filho ou mesmo a nível internacional a modelo Chrissy Teigen que mostrou no seu Instagram “a maternidade tal como ela é”. A atriz Sofia Arruda é, provavelmente, uma das mais recentes figuras públicas a dar a cara pelo tema do corpo no pós-parto.
A barriga pode ficar maior no pós-parto
Pode parecer contraditório, mas não é invulgar que a barriga no pós-parto aumente de tamanho em relação aos últimos meses de gravidez. Ainda que exista, no imediato após a expulsão do bebé e da placenta, uma perda de peso considerável, existem outros fatores que condicionam o emagrecimento das mulheres.
Esta segunda-feira, 5 de agosto, a atriz Sofia Arruda expôs imagens do seu corpo, duas semanas após ser mãe, falando do processo pelo qual tem passado:
“A fotografia da direita tirei no domingo passado, 1 semana depois do Xavier nascer. A da esquerda tirei hoje, 2 semanas depois de ele nascer. Ainda com o útero dilatado, mas já vejo que o nosso corpo faz tanta coisa sozinho, sem dietas nem treinos, amamento e espero que o útero diminua até ao seu tamanho normal. Vai demorar, meses até, mas estamos no caminho. Mais uma vez sem pressa, com respeito por mim e pela minha recuperação. Os únicos cuidados alimentares que tenho neste momento são para dar o melhor alimento possível ao meu bebé, durante o tempo que for possível. Quando recomeçar os treinos aviso”, podemos ler na descrição escrita pela atriz, na sua conta oficial de Instagram.
Tal como a atriz comenta na sua publicação, o corpo da mulher passa por muitas mudanças após o parto, de entre as quais o reposicionamento do útero. “Logo a seguir ao bebé nascer, o útero deixa de estar cá em cima, no nível das costelas, e volta mais ou menos para a zona do umbigo. Mas só depois das primeiras quatro a seis semanas é que vai ficar do tamanho de um punho fechado, que é o tamanho normal do útero. E isto é um processo relativamente rápido”, explica o especialista.
Mas a barriga pode ficar maior depois do nascimento. Porquê? “A barriga muitas vezes fica maior no pós-parto do que no final da gravidez, por incrível que pareça, porque o que acontece é que apesar de o bebé sair e de todos os anexos da gravidez, como a placenta e o líquido saírem também (…) os tecidos da barriga continuam relativamente flácidos“, continua a explicar o obstetra, acrescentando que “essa flacidez, apesar da gravidez e do bebé saírem, faz com que o intestino ocupe esse espaço, o que faz com que a barriga fique flácida, mole e muito inchada”.
Um dos grandes motivos deste inchaço, complementa o médico, é a acumulação de gases. Domingos Vaz recomenda, embora admita que seja uma opção discutível, o uso da cinta pós-parto. “Há mulheres que não gostam de sentir este aperto, mas a grande vantagem desta cinta é que faz uma contenção do espaço da barriga, para que o intestino não ocupe esse mesmo espaço, porque senão vamos ter mulheres com barrigas muito distendidas”, termina.
Amamentar não acelera o processo de emagrecimento
E a amamentação, até que ponto ajuda no processo de emagrecimento do pós-parto? Para o especialista esta é uma relação que ainda está por comprovar.
“Teoricamente, mesmo quando lemos as listas de vantagens da amamentação, e a Organização Mundial de Saúde tem uma série de itens publicados e públicos sobre as vantagens de amamentar, um dos itens que normalmente vem escrito é o controlo do peso”, começa por explicar o médico, afirmando que, no entanto, esta não lhe parece ser a realidade.
O obstetra explica que embora “no início exista uma perda significativa de peso” para todas as mulheres que “amamentam a sério”, ou seja, que passam pelo menos quatro a seis meses a amamentar o seu filho, “depois vê-se que ficam com o peso estagnado”.
“A amamentação faz com que a mulher mantenha uma reserva, até porque faz com que tenha mais apetite, e há a necessidade de se hidratar ou comer sempre que amamenta, e isto é algo fisiológico, não estou a falar de algo relacionado com distúrbios do comportamento alimentar nem nada do género, nem mulheres que tenham maus hábitos”, esclarece.
Esta “necessidade fisiológica que as mulheres têm de comer mais, porque estão a amamentar, faz com que o peso fique relativamente estagnado”. Só quando a mulher acaba de amamentar, se não existir nenhuma perturbação alimentar, é que o seu corpo tende a voltar ao peso habitual – ou próximo – desde que não tenham aumentado muito de peso ao longo da gravidez. O importante, aconselha o médico, é ter uma alimentação diversificada, regular e rica em frutas e legumes, bem como proteínas variadas. Enquanto a mulher amamentar, o peso não deverá sofrer alterações. No entanto, quando deixar de o fazer haverá mudanças significativas.
Domingos Vaz aconselha a “reforçar a hidratação, sempre. É muito importante. “Cortar com tudo o que sejam hidratos de carbono de absorção rápida como doces, bolos, bolachas, chocolates. Controlar o impulso por este tipo de alimentos, senão a mulher não só não vai perder peso, como pode, inclusive, aumentar a massa gorda, o que também não é desejável”, conclui o ginecologista.
Existem vários outros processos pelos quais as mulheres passam até que o seu corpo volte à normalidade. Percorra a galeria de imagens acima e veja algumas mudanças que ocorrem no corpo feminino depois do parto, segundo o obstetra Domingos Vaz.
Fonte: delas.pt