De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período.
Durante a preparação para a chegada de um novo bebé à família, são vários os desafios com que os casais frequentemente têm de lidar. Tanto para a grávida como para o/a parceiro/a que com ela partilha esta nova fase, a transição para a parentalidade envolve a adaptação dos casais a um novo contexto de vida que implica mudanças físicas, psicológicas, mas também relacionais. Entre os vários desafios que os futuros pais e mães enfrentam, alguns podem relacionar-se com a sua vida sexual.
Como muda a vida sexual dos casais durante a gravidez?
A maior parte dos casais experiencia mudanças na sua sexualidade durante a gravidez, especialmente ao nível da frequência com que se envolve em atividade sexual e dos seus níveis de desejo e satisfação sexuais. Existe, contudo, alguma variabilidade na forma como estas mudanças são vivenciadas de casal para casal. Embora 10 a 20% das mulheres relatem experienciar um aumento do desejo, frequência e satisfação sexuais durante a gravidez, esta experiência está longe de ser universal. A experiência sexual da maioria dos casais que atravessam o período de gravidez pode ser bastante diferente, e bem mais desafiante. Num estudo recente com mulheres que estavam grávidas do seu primeiro filho, cerca de metade declarou ter pelo menos um medo ou preocupação sobre a sua vida sexual durante a gravidez que a levou a evitar ter atividade sexual durante a gestação (tal como sangrar, ter uma infeção, ou provocar danos ao feto), sendo estas preocupações muitas vezes desajustadas, nomeadamente no contexto de gestações de baixo-risco. Estas preocupações são frequentemente partilhadas pelos próprios parceiros/as, através de crenças sexuais (isto é, ideias gerais sobre a sexualidade que frequentemente guiam o seu comportamento) que consideram a penetração vaginal durante a gravidez como um comportamento de risco para eventos obstétricos adversos tais como indução do trabalho de parto prematuro ou provocação de aborto, especialmente quando o sexo ocorre no terceiro trimestre. De facto, esta crença é apresentada pelos casais como uma preocupação particularmente comum durante a gravidez. No entanto, a prevalência de eventos obstétricos adversos devido ao coito vaginal é baixa, sugerindo que, para a maioria dos casais, estas preocupações são infundadas. Para estes casais, a incompreensão, aliada a alguma ansiedade, acerca de quais as práticas sexuais seguras durante a gravidez poderão ser fatores importantes para a redução do seu bem-estar sexual durante este período. De forma a minimizar estas dificuldades, é importante que os casais identifiquem e comuniquem quais suas preocupações sexuais e quais as mudanças que estão a vivenciar ao nível da sua sexualidade, quer com o/a parceiro/a, quer com os profissionais de saúde que os acompanham ao longo deste período. Os prestadores de cuidados de saúde têm a oportunidade única de clarificar o carácter normativo e transitório destas experiências, permitindo aos casais discutir formas de vivenciar a sua sexualidade de maneira mais satisfatória durante a gravidez.
E no pós-parto?
Com a chegada de um novo bebé à família, os casais têm agora de lidar com um leque de fatores adicionais, desde o aumento da fadiga, a recuperação física da mãe no pós-parto, a mudança de papéis e responsabilidades (incluindo a divisão do cuidado do bebé) e menos tempo sozinhos enquanto casal. Caso a mãe esteja a amamentar, isto poderá adicionalmente contribuir para a redução da excitação sexual da mãe e para uma maior probabilidade de ela experienciar dor durante as relações sexuais nos primeiros meses após o parto. Tudo isto poderá desempenhar um papel no bem-estar sexual dos casais, que tipicamente se mantém diminuído até um ano após o parto. No decurso deste primeiro ano, o funcionamento sexual – que inclui dimensões como desejo, excitação, orgasmo, e dor – tende a aumentar novamente, mas aos 12 meses pós-parto continua a ser, em média, mais baixo do que os níveis anteriores à gravidez. De facto, mais de 90% dos recém-pais relata ter voltado a ter relações sexuais aos três meses pós-parto, mas cerca de 50% dos pais e 35% das mães diz ainda se sentirem sexualmente insatisfeitos seis meses pós-parto.
Como vivenciar uma sexualidade mais satisfatória durante este período?
A investigação tem demonstrado que 90% das mães e pais reportam bastantes preocupações sexuais durante o período de pós-parto, muitas das quais são similares entre os membros do casal. Entre as mais frequentes estão a preocupação com a redução da frequência de atividade sexual, com o impacto que a recuperação física da mãe poderá ter, ou com possíveis diferenças no desejo sexual entre o casal.
Fonte: Público