O organismo da mulher grávida passa por evidentes transformações ao longo da gestação, de modo a possibilitar o desenvolvimento do filho, mas também devido ao crescimento do mesmo no ventre materno.
Generalidades
A gravidez provoca, como é óbvio, profundas alterações anatómicas e funcionais no organismo da mulher. Por um lado, o próprio crescimento do feto no interior do útero que o alberga altera de maneira evidente a silhueta do abdómen da mãe, tendo repercussões mecânicas nos órgãos adjacentes e também na estética do corpo, sobretudo quando são acompanhadas pelas modificações sofridas pelos seios para que estes estejam preparados para produzirem o alimento do recém-nascido.
Por outro lado, a influência das hormonas da gravidez altera a actividade de todo o organismo materno, já que este tem que se adaptar a esta nova condição, com vista a cobrir as necessidades do feto. A única hormona própria da gravidez é a hormona gonadotrofina coriónica (hCG), segregada pela placenta durante as primeiras fases da gestação. A sua função é a de manter a actividade do corpo lúteo do ovário para que este prossiga com a produção, em quantidades cada vez mais significativas, das hormonas sexuais femininas, os estrogénios e a progesterona, já que a implantação do ovo no útero e também a sobrevivência do feto depende da acção destas duas hormonas. Tendo em conta que os inúmeros efeitos das hormonas se fazem sentir em todo o organismo, originam várias adaptações funcionais.
Crescimento do útero
O útero, o órgão no interior do qual se desenvolve o produto da concepção, passa por um crescimento espectacular ao longo dos nove meses de gravidez, já que o seu peso passa dos 50 a 60 g para mais de 1 kg e a sua capacidade aumenta milhares de vezes, pois a cavidade uterina passa dos 3 a 5 ml para cerca de 4 a 5 1 ou até mais em alguns casos. Apesar de o útero se dilatar desde o início da gravidez, o seu crescimento, ao longo do primeiro trimestre de gestação, não é evidente, já que ainda se mantém oculto na pélvis. De qualquer forma, o médico pode detectar alterações, ao fim de um mês ou mês e meio, durante a palpação, pois pode constatar que a sua forma, em vez de ser triangular, é redonda, que a sua consistência habitual se alterou e que tem uma maior dimensão, próxima à de uma laranja. No fim do terceiro mês, o fundo do útero, a porção superior do órgão, começa a alterar de forma progressiva a silhueta abdominal. A meio da gravidez, o fundo uterino pode palpar-se na região umbilical e, ao oitavo mês, situa-se praticamente debaixo das últimas costelas, embora desça um pouco antes do parto devido ao facto de o feto se encaixar na pélvis materna.
Para além de provocar uma evidente alteração da silhueta abdominal, o crescimento do útero provoca a compressão dos órgãos adjacentes, com as consequências habituais. A compressão da bexiga reduz a capacidade deste órgão e origina um aumento da frequência das micções, sobretudo ao longo do primeiro trimestre, quando o útero ainda se encontra na pélvis e, na última parte da gravidez, quando o feto desce e o útero volta a pressionar a bexiga. A progressiva compressão do estômago e dos intestinos costuma ter consequências comuns, como por exemplo problemas digestivos e um certo grau de obstipação. Por fim, a compressão do útero sobre os troncos venosos da pélvis costuma contribuir para o inchaço das pernas e para o desenvolvimento de varizes.
Modificações mamárias
Em caso de gravidez, os seios alcançam o seu desenvolvimento máximo, já que é apenas dessa forma que adquirem as características necessárias para desempenharem a sua função, ou seja, a produção de leite para alimentar o bebé. É por isso que, ao longo de toda a gravidez, a influência de determinadas hormonas, sobretudo da progesterona, proporciona alterações evidentes. A partir do primeiro mês de gravidez é possível observar uma notória proliferação dos canais galactóforos, um facto que determina um aumento do volume dos seios, um dos primeiros sinais da gravidez que, por vezes, é detectado antes da gravidez. Ao fim de poucas semanas, os seios tornam-se mais salientes, as aréolas escurecem e a sua superfície evidencia pequenos inchaços que correspondem aos tubérculos de Montgomery.
Ao longo do primeiro trimestre da gestação, os seios incham e aumentam de peso, costumam estar hipersensíveis, sobretudo nos mamilos, o que pode tornar intolerável qualquer atrito ou carícia, e ocasionalmente são perceptíveis formigueiros e até pequenas pontadas, por vezes dolorosas, sem qualquer estímulo externo. À medida que vão crescendo, a irrigação dos seios aumenta significativamente, o que faz com que as veias fiquem perfeitamente perceptíveis, ao transparecerem sob a superfície cutânea. Na última fase da gravidez ocorre também uma proliferação dos ácinos glandulares, através da qual os seios ficam preparados para iniciarem a sua actividade secretora. Embora, por vezes, a saída de pequenas quantidades de secreções seja perceptível desde meio da gravidez, a verdadeira secreção láctea apenas se inicia após o parto.
Aumento de peso
Apesar de, ao longo da gravidez, a mãe passar por um progressivo aumento do peso do corpo, variável de caso para caso de acordo com factores como a sua constituição física, o tamanho do feto e, como é óbvio, a alimentação, este aumento de peso costuma manter-se dentro de determinados limites, já que o normal, ou o desejável, é que o aumento seja de 9 a 12 kg. Mais de metade deste aumento corresponde ao peso alcançado pelo próprio feto já desenvolvido, ao líquido amniótico que o rodeia e à placenta, enquanto que o resto é originado pelo crescimento do útero e dos seios, através do aumento dos depósitos adiposos e do volume sanguíneo.
O aumento de peso, de início reduzido ou até inexistente, é mais significativo à medida que a gravidez vai avançando. De facto, como o peso da mulher, ao longo do primeiro trimestre, costuma permanecer estável, pois o embrião é reduzido e o útero apenas cresce, produz-se, no máximo, um aumento de cerca de 0,5 kg por mês, ou seja, um total de 1,5 Kg. Ao longo do segundo trimestre, já é possível observar um aumento de peso muito mais evidente, de 1 a 1,5 kg por mês. No último trimestre, o aumento de peso situa-se perto dos 2 kg por mês.
Considera-se que o aumento de peso se deve processar de forma regular e progressiva, sem ultrapassar, em nenhum período da gravidez, um máximo de 300 a 400 g por semana. Todo o excesso corresponde a uma alimentação inadequada, o que apenas iria originar o aumento dos depósitos de gordura. Caso a mulher se tenha alimentado correctamente, não existirão motivos para a produção de uma acumulação exagerada de gordura e, por isso, o peso normaliza-se pouco tempo após o nascimento. Com o parto, a parte do aumento do peso correspondente ao feto, ao líquido amniótico e à placenta reduz-se de imediato, enquanto que a restante diminui de maneira progressiva à medida que o útero vai recuperando as suas dimensões normais, o corpo retoma a sua forma habitual e os seios diminuem de volume, algo que ocorre no final da lactação.
Alterações cardiovasculares
O aparelho cardiovascular materno encarrega-se do fornecimento das substâncias necessárias para o desenvolvimento do feto e eliminação dos seus resíduos, utilizando a placenta como órgão intermediário, o que justifica o facto de o seu funcionamento ao longo da gravidez ser adaptado.
A influência das hormonas da gravidez proporciona a dilatação de praticamente todos os vasos circulatórios, o que provoca um aumento tão significativo do volume de sangue que os glóbulos vermelhos ficam mais diluídos, originando uma anemia relativa. Dado que o coração tem que aumentar a frequência dos seus batimentos para manter a circulação, o débito cardíaco aumenta no mínimo 30% nos dois últimos trimestres da gravidez. Embora a dilatação vascular proporcione uma ligeira descida da pressão arterial ao longo dos dois primeiros trimestres, à medida que se vai aproximando o fim da gravidez, os seus valores vão regressando ao normal. Por outro lado, o aumento do volume sanguíneo e a compressão que o feto exerce sobre os grandes vasos abdominais e pélvicos, dificultando o retorno venoso, são factores que contribuem para a insuficiência venosa dos membros inferiores.
Estética corporal
O crescimento do útero, com a progressiva dilatação do abdómen, e o crescimento dos seios, cujo tamanho aumenta de forma notória, faz com que o peso da parte anterior do corpo aumente de forma significativa, o que tem repercussões na estética corporal. À medida que a gravidez vai avançando, a mulher tem a tendência para deslocar a parte superior do tronco e a cabeça para trás, de modo a compensar o deslocamento do centro de gravidade, o que proporciona um exagero das curvaturas da coluna vertebral que, caso a mulher não se esforce para manter o mais direita possível, pode provocar dores, especialmente na zona lombar. Para além disso, de modo a aumentar a base de sustentação e melhorar o equilíbrio, a mulher tem a tendência para separar as pernas e abrir os pés para fora, um outro traço característico das posições de uma mulher grávida.
Fonte: Medipédia