Como fica o sexo depois do parto?

Voltar à atividade sexual depois do parto nem sempre é fácil. Com um novo membro na família e todas as alterações no corpo da mulher, rapidamente surgem dúvidas e alguns medos que podem precipitar a primeira relação pós-parto, originando problemas graves como infeções ou traumas psicológicos.

Existe sempre medo de se sentir alguma dor, essencialmente quando tivemos um parto vaginal”, começa por confessar Bárbara Rala, 32 anos, ao Delas.pt. Mãe há pouco mais de sete meses, diz existirem dias realmente cansativos, contribuindo para a falta de predisposição em retomar a vida sexual: “Há dias que passamos o tempo todo de pijama. O nosso corpo sofreu alterações e, por muito que o nosso companheiro seja fantástico, estamos sempre mais cansadas. A energia esvai-se!”.

Compreender este cansaço nem sempre é fácil para muitos companheiros, assegura ao Delas.pt Sofia Serrano, ginecologista e obstetra: “Acontece muitas vezes os maridos não perceberem o que a mulher esteve a fazer o dia todo, que foi cuidar do bebé. Há bebés que são difíceis, uns têm cólicas, outros ainda não têm intervalos certos para mamar… E as mães não conseguem descansar o suficiente”.

Quanto à dor, é um receio bastante comum entre as mulheres que acabaram de ser mães: “Quando se tem um parto normal, com corte na região do períneo, muitas vezes surge logo o medo de que vá doer. Pode haver alguma alteração em termos de sensibilidade naquela zona, porque fica ali uma cicatriz e a vagina é muito sensível”, refere Sofia Serrano. E prossegue garantindo que “com o tempo essa sensação vai passando”.

Os quilos que se ganham durante os nove meses de gravidez também podem ter um impacto na inibição do regresso à atividade sexual. Bárbara engordou 17 quilos. E embora ainda não tenha recuperado a forma física que tinha, garante que isso não é um problema: “Não me senti afetada pelo peso que ganhei. Dez [quilos] já perdi e sem esforço, os restantes sete é que estão mais resistentes. Ainda não foi tudo embora, é verdade, mas irá!”.

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Mas essa não é a realidade de todas as mulheres.

“Depois do parto são poucas as que conseguem ter um corpo perfeito, é normal”, afirma Sofia Serrano. Para evitar que isso aconteça podem ser tomadas algumas medidas de precaução, sugere a especialista. “Ter uma alimentação cuidada logo durante a gravidez é importante para não ganhar mais peso do que o recomendado, cerca de dez ou 12 quilos”, indica. E continua: “Depois do parto, se for possível, é importante fazer alguns passeios e manter uma alimentação saudável. Existem também aulas de recuperação pós-parto, onde as mães podem levar os bebés. Aí não só partilham experiências, como acabam por sair de casa e fazer um bocadinho de exercício, o que ajuda a melhorar a autoestima”.

A especialista alerta ainda: “Se não saímos de casa, se estamos sempre com a mesma roupa, se o foco é sempre o bebé, que é importante obviamente, podem surgir outras situações, como as depressões pós-parto. É importante a mãe arejar a mente, sair de casa”. Para a mãe, para o bebé e até para o casal, revela Serrano, “porque a mãe vai ficar mais animada, mais bem-disposta e facilmente tudo corre melhor com o parceiro”.

O sexo muda?
Para João (nome fictício), que foi pai há menos de três meses, “as relações sexuais mudaram após o parto. Tornaram-se mais cuidadosas”. As alterações no corpo da companheira, bem como a sensibilidade do órgão sexual, fizeram com que João tivesse medo de lhe provocar dor durante a intimidade: “Os toques que possam existir tornam-se um pouco estranhos, criando-se, por vezes, uma situação desconfortável e nada sensual.

Não tem que ser assim, garante Sofia Serrano, desde que o retorno à atividade sexual aconteça no momento certo. “O ideal é a mulher só retomar a vida sexual seis semanas após o parto, independentemente do tipo de parto. Nessa altura deve ser feita uma consulta de revisão pós parto para ver se está tudo bem com a recuperação e cicatrização do útero, no caso da cesariana, ou da parte do períneo, quando é parto normal”.

No entanto, a especialista alerta que o casal deve ter em conta que pode não ser tudo exatamente igual, sem que a mudança seja para pior: “Há muitas mulheres que depois de um parto vaginal, sentem as relações sexuais com mais prazer, porque ganharam uma consciência diferente ao nível da zona do períneo, ou seja, ao nível da zona vaginal”.

A consulta de revisão serve também para discutir métodos contracetivos que facilitem o regresso à vida sexual, sem o constrangimento de poder voltar a engravidar, bem como dúvidas do casal, como saber que produtos podem utilizar em período de amamentação ou como recuperar o desejo.

João refere que não foi esse o caso: “Como deixámos de ter relações no final do gravidez e durante algum tempo após o nascimento do bebé, a vontade foi crescendo e estava lá. Mas, tornou-se difícil envolvermo-nos, porque mesmo com o bebé a dormir é necessário estarmos atentos”.

“Isso acaba por quebrar completamente o ambiente”, refere Sofia Serrano. Para contornar esta situação a especialista sugere: “É bom ter uma avó ou alguém que fique com o bebé durante algumas horas, para que o casal consiga ter intimidade, nem que seja uma vez por semana”.

Defendendo a importância de voltar a ter relações sexuais, a ginecologista e obstetra afirma que “a atividade sexual é uma forma de ligação com o companheiro e deve ser retomada. A sexualidade faz parte do nosso bem-estar. Uma grande parte dos divórcios ocorre da sequência dos nascimentos dos filhos, porque alguns casais não se conseguem readaptar ao aparecimento de um novo elemento na família”.

Cuidados a ter nas primeiras relações pós-parto
Apesar de importante, é fundamental retomar a atividade sexual com calma e paciência. Sofia Serrano destaca os preliminares como um combustível essencial. “É preciso tempo e namorar um bocadinho antes. Utilizar um lubrificante nas primeiras vezes também pode ajudar, porque devido às hormonas e ao período de amamentação, muitas mulheres acabam por ter alguma secura na região da vagina”.

Bárbara não chegou a recorrer a quaisquer lubrificantes, “não foi necessário” diz, acrescentando que “se fosse, não teria constrangimento nenhum em usar”. “Nessas alturas penso ser sobretudo importante a cooperação, a compreensão e o respeito por parte do nosso companheiro”.

Esse apoio é fundamental para que a mulher não entre em stress e evite culpabilizar-se por determinados comportamentos hormonais que não dependem dela, refere Sofia Serrano. “Por vezes há mulheres que ficam nervosas por não terem lubrificação ou desejo e acham que se passa algo de errado com elas. Não. Isso são consequências do pós-parto, é normal”, explica. E prossegue: “Respeitando aquelas seis semanas depois do parto e estando tudo bem cicatrizado, à partida não haverá nenhum problema em ter relações sexuais normais”, refere a especialista.

E se correr mal?
Porque nem tudo corre sempre bem é fundamental prestar atenção a alguns sinais. “Dores intensas não são normais”, garante Sofia Serrano. E adianta: “É normal sentir um ligeiro desconforto, porque pode haver um pouco de secura, mas dores intensas, aparecimento de sangue ou corrimentos anormais não. Nesse caso é necessário consultar um médico”.

Estes são sintomas que surgem sobretudo quando se tenta iniciar a vida sexual cedo demais. Além da depressão pós-parto e de traumas que levem ao medo de voltar a tentar ter relações sexuais, podem desenvolver-se complicações a nível físico.

“Se os pontos não estiverem bem cicatrizados e existirem relações sexuais, podem abrir e o processo de recuperação pode ser muito complicado. Pode provocar infeções ou até mesmo uma má cicatrização, deixando alterações futuras na anatomia do órgão vaginal, o que pode levar também a alterações em termos do prazer sexual da mulher”, explica Sofia Serrano.

FONTE: Delas.pt

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