Em todo o mundo, um em cada dez bebés nasce prematuro, isto é, antes do tempo e com uma série de necessidades muito específicas que se prendem com a imaturidade de muitos dos seus órgãos.
Somos mãe e pai de uma prematura de 29 semanas. Sou a mãe que, de um momento para o outro, percebeu que a bebé tinha de nascer, mesmo a muitas semanas do termo e sem aviso. Sou a mãe que teve alta antes da bebé, que regressou a casa sem ela e com as dores do parto, que passou 56 dias a cuidar da sua bebé, mas numa outra casa: o serviço de neonatologia.
Cateterismos, ecografias, sondas, ventilador, parentérica, soro, oxigénio, incubadora, máquinas e mais máquinas num piiiii permanente e ensurdecedor… Estes são os adereços que não tínhamos previsto no quarto amoroso e pensado para o nosso
bebé. E é um quarto repleto ainda de outras pessoas que cuidam, além de nós, daquele pequeno ser que achávamos só nosso. Na verdade, são estes enfermeiros, médicos e auxiliares que seguram os nossos bebés, que os alimentam e lhes pegam ao colo nas horas em que não estamos. Que os mantêm vivos. E que os ajudam a crescer fora da sua pequena bolha, o útero materno.
Estes profissionais, além de cuidarem dos bebés, cuidam ainda dos pais. Principalmente das mães que se esquecem das suas dores porque não têm, sobretudo, disponibilidade física e mental para elas; mas que, apesar de tudo, estão a viver um pós-parto, só que sem bebé.
As mães sorriem e falam, mas também choram e procuram o silêncio porque estão vazias e incompletas.
As mães e os pais de bebés prematuros aprendem a gerir as expectativas — as suas e as das outras pessoas —; aprendem que só o hoje importa, que hoje esperam encontrar o seu bebé nunca pior do que ontem. Porque na neonatologia, tudo muda de um momento para o outro.
Os pais dos bebés prematuros guardam no coração todos os profissionais de saúde que seguraram os seus filhos, nos seus primeiros — e longos — dias de vida.
Nós somos pais de uma outra filha que foi internada com um mês de idade, com uma bronquiolite; e ainda de uma terceira filha que também passou os primeiros 12 dias na Neonatologia por outras complicações.
Hoje, Dia Internacional da Prematuridade, é obrigatório homenagear todos os profissionais de saúde que lidam diariamente com estes bebés, que fazem dos cuidados neonatais um símbolo de desenvolvimento que contraria taxas antigas de mortalidade infantil.
Obrigada. E força. Principalmente nesta altura em que o cansaço — físico e psicológico — assombra ainda mais todos os profissionais de saúde.
Fonte: Público